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O quadro atual da violência obstétrica 

A violência obstétrica é tema que tem ganhado grande voga entre os debates de organizações internacionais como a organização Mundial de Saúde - OMS e diversos governos. O termo que teve sua alcunha dada por movimentos Latino-Americanos no século XXI, todavia, tende a desviar a atenção do problema que se pretende debate, sendo acusado por algumas correntes por ser demasiado forte ao que se refere.

A ideia de que a violência se exprime somente através de atos assombrosos, por assim dizer, e que estejam fora de padrões socialmente aceitos ou há muitos anos praticados confundem aqueles que se deparam com a luta contra as violências contra a mulher no momento do parto. Isso porque, algumas das ditas violência relatadas como a Episiotomoia (cortes extensos do tecido vaginal) ou execução da manobra de Kristeller (pressão extra ulterina) são manobras médicas utilizadas há anos na prática médica.

A Associação Portuguesa dos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto (APDMGP) contudo ressalta que a violência a que se refere é um fenómeno multidimensional que abrange uma série de situações cuja base está no desrespeito físico e psicológico em relação à mulher e que não deve ser ignorado, sobretudo em Portugal. 

Último estudo realizado em acordo com padrões definidos pela OMS no âmbito do projeto IMAGINE EURO (Improving Maternal Newborn C,are), revelou que em Portugal o número de partos instrumentalizados é três vezes maior que em outros 11 países Europeus, chegando a um percentual de 31% das mais de 21 mil mulheres que responderam à pesquisa, das quais 63% afirmaram não terem lhe sido pedidos quaisquer consentimentos para realização do parto instrumentalizado. Ainda mesmo estudo chegou a valores de 40,7% de mulheres terem sido sujeitas a Episiotomoia durante o parto frente à 20,1% da taxa global.

Ainda, extrai-se do referido estudo que uma em cada cinco mulheres reportou ter tido a percepção de que foi vítima não só de abusos físicos, mas também emocionais ou verbais durante o parto. Ignorar tal denúncia por simples debate de tecnicidade do termo que nomeia referidas práticas violentas não coaduna com a concepção de um estado democrático e a defesa dos valores da Dignidade Humana.

Neste sentido, Stéfanie Stefaisk, jornalista, doula e vice-presidente da Doular - Associação Portuguesa de Doulas ressalta que “A violência obstétrica em Portugal é sistêmica e acontece de norte a sul do país. As mulheres sofrem abusos verbais e, muitas vezes, físicos durante a gravidez e o parto, devido a uma desatualização dos profissionais sobre as recomendações mais atuais da Organização Mundial da Saúde e uma dessensibilização sobre um momento tão íntimo, vulnerável e importante da vida daquela mulher, bebê e família. Nós, doulas, ainda somos proibidas de adentrar as salas de parto, apesar de já haver estudos e uma revisão sistemática da Biblioteca Cochrane comprovando os benefícios do nosso acompanhamento, como menores taxas de cesariana, menos intervenções desnecessárias, menor uso de analgesia e melhor experiência de parto por parte das mulheres. Nós somos aliadas do sistema e nosso trabalho facilita o trabalho dos profissionais de saúde e melhora a experiência de parto. Estamos aqui para ajudar, não somos inimigas, e somos parte da solução para a melhoria das experiências de parto em Portugal. Não queremos apenas sair vivas dos nossos partos; também queremos sair inteiras. Não basta sermos sobreviventes.”

O fato de determinado ato médico ter sido reiteradamente praticado durante anos não exclui a possibilidade de evolução da ação médica para o uso de manobras menos agressivas, que possibilitem à mulher a continuidade de uma vida sexual ativa e saudável após o parto, ou ainda, de experienciar um parto saudável, comunicativo com a equipe e de acordo, na medida das possibilidades, com os desejos da gestante.

A violência obstétrica é uma realidade em Portugal e que precisa ser enfrentada com seriedade em comunhão com as entidades representativas do corpo médico, das organizações da Saúde de cada Estado através de ações educativas e mobilizações. 

Além de nossos papel enquanto Núcleo Feminista, nos opomos a qualquer tipo de violência e estamos juntas na luta contra a obstetrícia opressiva!

 

Luísa Gonçalves 

Colaboradora do Departamento de Informação

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