Eu sou filha de uma geração ferida, a geração dos meus pais que aprendeu a liberdade, a democracia, a emancipação das mulheres da boca daqueles que a dominavam em nome da raça e da ideologia colonial. O poder colonial significa “Este país não é vosso” para aqueles que, não obstante, designa como indígenas. E implica que os indígenas pensem: “Vivo no país dos outros. Estou em minha casa como um clandestino, um perigo, à coca, como a jovem mulher inquieta nas ruas de Sarajevo.”
É esta a língua que falo, a língua “saque de guerra” que foi ensinada ao meu pai numa escola onde ele era um dos poucos árabes. Falávamos francês em casa e vivíamos segundo regras que nem sempre estavam de acordo com as regras de fora.
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Compreendi que a dominação colonial molda não só os espíritos, mas também os corpos, que constrange e encarcera. O dominado não ousa mexer-se, rebelar-se, perder as estribeiras ou sair do seu bairro, exprimir-se. “A primeira coisa que o indígena aprende”, escreve Frantz Fanon em Os Condenados da Terra, “é a ficar no seu lugar, a não ultrapassar os seus limites. É por isso que os sonhos do indígena são sonhos musculares, sonhos de ação, sonhos agressivos. Sonho que salto, que nado, que corro, que trepo. Sonho que rio às gargalhadas, que atravesso o rio de um salto, que sou perseguido por inúmeras viaturas que nunca me apanham. Durante a colonização, o colonizado passa o tempo a libertar-se, das nove da noite às seis da manhã.”
Leïla Slimani
O Perfume das Flores à Noite