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Intolerância e extremismo nas redes sociais

Até que ponto a intolerância deve ser tolerada? Esse debate é antigo, mas atemporal. Foi inicialmente protagonizado por Karl Popper em seu livro “A Sociedade Aberta e seus Inimigos”, no qual chegou à conclusão de que para ser verdadeiramente tolerante, uma sociedade deve ser intolerante com a intolerância, visto que essa ameaça a liberdade de expressão dos outros grupos.

Em um mundo ideal, haveria métodos de controlo eficientes para que discursos de ódio e informações falsas não fossem difundidos, no entanto, em uma realidade cada vez mais globalizada, descentralizada e digital, há cada vez mais espaço para grupos extremistas se expressarem sem consequências, prejudicando discussões saudáveis e a inserção de grupos marginalizados.

Um primeiro ponto é a questão da inércia das plataformas quando se trata de regulamentação e definição de parâmetros justos, imparciais e que sejam implementados de forma eficaz. A mídia sempre foi meio de influência e disseminação de ideias e vemos hoje o impacto que um espaço não regulado têm na perpetuação de preconceitos e fake news, sendo usado para reforçar ideais opressores e podendo causar repercussões catastróficas na manutenção de estereótipos ou até mesmo na política e Direito local.

Há também a preocupação crescente dos algoritmos e sua influência no acesso à informação e espaços de difusão e formação de opiniões. O avanço tecnológico permite hoje traçar perfis e comparar performances de forma extremamente eficiente e precisa. Essas informações são então utilizadas para definir o que irá chegar até nós, assim como analisa que tipo de conteúdo têm melhor alcance nas plataformas. Análises recentes mostram que o que começou com haters individuais e anônimos se tornou uma cultura do ódio, na qual discursos negativos são espalhados sem medo, a ponto de serem os mais vistos e estarem entre os tipos que geram mais engajamento em todas as redes sociais. Há inclusive perfis que se aproveitam da febre e postam exclusivamente conteúdos pensados para incomodar o máximo de pessoas possível tendo como objetivo o lucro.

O ambiente muitas vezes hostil das redes sociais não fica só no meio digital, mas têm consequências na forma como agimos enquanto sociedade no dia a dia. As gerações mais novas estão inseridas nesse meio desde a infância e são as mais afetadas, refugiando-se em bolhas e sendo cada vez mais intolerantes com o diferente, chegando a ter socialização, desenvolvimento pessoal, inserção no mercado de trabalho e saúde mental como um todo comprometidos.

Cada vez mais vemos conflitos nascerem e agravarem-se devido a intolerância e extremismo perpetuado nas redes sociais e torna-se imperativo a busca por soluções legais, políticas e acima de tudo a perpetuação de uma educação democratizada, inclusiva e tolerante de forma a mitigar o ódio crescente no meio digital.

Gabriela Silveira

Secretária de Direção

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