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Moça das Docas

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniço.

Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines,

viemos do outro lado da cidade

com nossos olhos espantados,

nossas almas trancadas,

nossos corpos submissos escancarados.

 

 

De mãos ávidas e vazias,

de ancas bamboleantes lâmpadas vermelhas se acendendo,

de corações amarrados de repulsa,

descemos atraídas pelas luzes da cidade,

acenando convites aliciantes

como sinais luminosos na noite.

 

Viemos ...

Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimba,

do sem sabor do caril de amendoim quotidiano,

do doer espáduas todo o dia vergadas

sobre sedas que outras exibirão,

dos vestidos desbotados de chita,

da certeza terrível do dia de amanhã

retrato fiel do que passou,

sem uma pincelada verde forte

falando de esperança.

Noémia de Sousa

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Com ascendência goesa, portuguesa e africana, é em Catembe, Moçambique, que nasce Noémia de Sousa, em 20 de setembro de 1926. Após a morte do pai em 1932, Noémia de Sousa começou a estudar no curso pós-laboral de comércio na Escola Técnica e publicou os primeiros poemas no jornal da escola. 

Na década de 1940 viveu no bairro da Mafalala, em Maputo onde escreveu poemas que se tornariam símbolos nacionalistas africanos "Deixa passar o meu povo". só saiu do bairro por motivos políticos, em 1949.[3]

Trabalhou como tradutora em lisboa entre 1951 e 1964 mas, dada a sua posição politica de oposição ao Estado Novo teve de exilar-se em Paris, onde trabalhou no consulado de Marrocos.

 

 

Poeta, jornalista de agências de notícias internacionais, viajou por toda a África durante as lutas pela independência de vários países.

Em 1975 regressou a Lisboa, onde trabalhou na Agência Noticiosa Portuguesa.

Em 2001, a Associação dos Escritores Moçambicanos publicou o livro Sangue Negro, que reúne a poesia de Noémia de Sousa escrita entre 1949 e 1951.

A sua poesia está representada na antologia de poesia moçambicana Nunca mais é Sábado, organizada por Nelson Saúte.

Morre em lisboa a 4 de dezembro de 2002 Noémia de sousa, poeta, tradutora, jornalista e militante política moçambicana, sendo considerada a “mãe dos poetas moçambicanos”.

Noémia de Sousa

1926-2002

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