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Tragam de volta o feminismo anti-porn

Recentemente ao dar scroll na plataforma tik tok, deparei-me com um tik tok que dizia “Bring Back Anti-Porn Feminism”, seguida de fotos de manifestações contra esta indústria.

 

Inevitavelmente lembrei-me de como fomos confrontades com a notícia de que Elon Musk, atual dono da plataforma X (antigo Twitter), decidiu permitir oficialmente conteúdo pornográfico na sua plataforma. Ainda que este conteúdo já fosse partilhado constantemente na plataforma, Elon decidiu que a plataforma não agiria contra a partilha deste conteúdo, permitindo-o oficialmente.

 

A pornografia é definida como sendo material produzido com objetivos recreativos, em que são recriadas cenários explicitamente sexuais, tem vindo a assumir um cáracter comercial, conhecendo-se empresas e profissionais envolvidos no setor. 

 

O aumento da distribuição deste género de conteúdos tem levado a que cada vez mais jovens tenham tido acesso a este conteúdo a uma idade muito tenra e a que o consumo destes conteúdos, da parte de adolescentes como de adultos, tenha vindo a aumentar exponencialmente (uma pesquisa realizada pela organização americana Common Sense Media com adolescentes dos EUA mostra que 73% dos 1358 entrevistados entre 13 e 17 anos consomem pornografia - desses, 54% viram pela pela primeira vez com 13 anos ou menos, enquanto 15% afirmaram que tiveram acesso antes mesmo de completar 11 anos).

 

No entanto, é comummente ignorado e normalizado o conteúdo destes cenários, os sofrimentos relatados pelas profissionais da área, os impactos que se têm vindo a registar na saúde mental, saúde sexual de homens e mulheres e a incitação à violência para com as mulheres suscitada por este fenómeno.

 

São reproduzidos cenários em que a violência de que as mulheres têm vindo a ser vítimas é erotizado, sendo essa violência tanto física como verbal, chegando a haver reprodução de cenários de violação. A indústria pornográfica tem transformado a violência sofrida pelo sexo feminino e transformado essa violência nalgo que desperte o prazer sexual de quem assiste, contribuindo assim para a regularização e normalização da violência. 

 

Uma rápida pesquisa revela-nos estudos em que já concluíram que estes conteúdos contribuem para o desenvolvimento de atitudes sexistas, violentação de adolescentes nas suas primeiras relações sexuais, que ensinam mesmo que a violência faz parte do ato sexual, no entanto, essas indústrias continuam a lucrar (sendo relatados milhares de milhões de dólares de lucro por parte das empresas anualmente).

 

E ainda, além do efeito que tem em quem consome, já foram divulgados relatos por parte de ex-atrizes pornográficas em que a violência constante que é perpetuada nestes cenários é evidente e teve claros efeitos nelas (relembremos os relatos recentes de Mia Khalifa).

 

Contudo, Elon Musk decide que é uma boa ideia permitir estes conteúdos numa plataforma aberta e continuar a perpetuar a violência contra as mulheres, fazendo-nos questionar se realmente as pessoas percebem que a violência contra as mulheres é uma realidade presente no nosso dia-a-dia e que, se queremos REALMENTE combater a violência contra as mulheres, temos de identificar TODAS as fontes que potenciam e normalizam esta violência.

 

A decisão de Elon Musk mostra, como muitas outras, que, enquanto não formos todas livres, a nossa luta não terminou.

Mafalda Rodrigues

Presidente do NFFDL

Fontes:

https://www.commonsensemedia.org/research/teens-and-pornography

https://fightthenewdrug.org/studies-show-porn-often-normalizes-sexual-violence-women/

https://www.theguardian.com/commentisfree/2021/oct/04/violence-against-women-culture-true-crime-pornography-onscreen 

https://expresso.pt/economia/economia_tecnologia/2024-06-04-rede-social-x-passa-a-permitir-oficialmente-publicacao-de-conteudo-pornografico-f491533c 


 

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