Helena Neves
Maria Helena Augusto das Neves Gorjão, nasceu em Lisboa a 17 de junho de 1945 e aos 17 anos juntou-se ao Partido Comunista Português (PCP), tendo sido uma voz no ativismo feminista e antifascista.
Nascida numa família com raízes proletárias da parte do pai e burguesas da parte da mãe, foi o avô paterno, anarquista e ateu, que influenciou os seus primeiros anos de vida. O seu pai, apoiante do regime de Salazar, foi um dos funcionários da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT) e a sua mãe, outrora professora primária, dedicara-se ao trabalho doméstico por decisão do pai.
No liceu, Maria era a única aluna que não pertencia à Mocidade Portuguesa Feminina porque «não gostava de fardas, de regras», segundo a mesma. Aos 17 anos tornou-se militante do Partido Comunista Português (PCP) e, mais tarde, decidida a continuar os seus estudos académicos, ingressou na Faculdade de Letras de Lisboa, onde o seu envolvimento em várias manifestações levou a uma agressão por parte de um agente da PIDE e à sua suspensão por 40 dias.
Em 1968 é convidada pelo PCP a frequentar uma reunião de mulheres da oposição em casa de Sophia de Melo Breyner, reunião essa que deu origem à proposta de criação da direção da Comissão Eleitoral de Mulheres, integrando ainda o Movimento Democrático Eleitoral de Mulheres do distrito de Lisboa, que mais tarde ficou conhecido como Movimento Democrático de Mulheres (MDM). Foi presa pela PIDE quando integrava a lista da CDE (Comissão Democrática Eleitoral) e impedida de lecionar por, segundo a PIDE, “não garantir a Segurança do Estado”, tornou-se jornalista.
Em 1973 participa na Comissão Nacional do III Congresso da Oposição Democrática, candidata-se pelo distrito de Lisboa na lista CDE/CEUD e é detida numa distribuição de manifesto, sendo transferida para Caxias, de onde é libertada na véspera da campanha eleitoral. É novamente presa em março de 1974 e recupera a liberdade “com a liberdade do nosso país graças ao Movimento das Forças Armadas na revolução de abril”, dia que recorda com muita emoção.
Após o 25 de abril começa a trabalhar na redação do jornal Avante, no qual se ocupa da luta das mulheres e da reforma agrária. Faz parte da Comissão da Reforma Agrária junto do Comité Central e dos Secretariado dos Jornalistas Comunistas, torna-se conselheira no Conselho de Informação para a RDP, e no Conselho de Informação para a RTP na Assembleia da República nos anos 1975/77, pelo PCP. Mais tarde passa a integrar o Núcleo das Mulheres Comunistas, a Comissão de Mulheres Comunistas junto do Comité Central, o Movimento Democrático de Mulheres e participa na proposta legislativa apresentada pelo Partido Comunista sobre a legalização do aborto.
Pelo MDM, em 1979, representou o Conselho da Comissão da Condição Feminina e exerceu o cargo de sub-diretora na revista Mulheres.
Anos mais tarde abandona a militância do Partido Comunista e do Movimento Democrático Feminista e, em 1999, adere ao Bloco de Esquerda e torna-se a primeira deputada a levantar questões como a legalização da contraceção de emergência, a união de facto dos homossexuais, a criminalização da violência doméstica, a alteração da lei do divórcio e a questão do aborto.
Por fim, tornou-se dirigente da UMAR, União de Mulheres Alternativa e Resposta, e da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres, nas quais se depara com a profundidade do debate e combate feminista.
Helena Neves representa uma figura emblemática na luta pelos direitos das mulheres em Portugal e de uma sociedade igualitária. Uma luta de anos, marcada por consecutivas tentativas de silenciamento devido à pressão ditatorial e a uma luta contra a desigualdade de género. Uma trajetória marcada por uma intensa atividade política e social, que evidencia a importância do feminismo na luta pela participação das mulheres no poder. Uma mulher de poder que lutou pelos seus direitos.
Fontes:
-Mulheres de Abril: Testemunho de Helena Neves | Esquerda;
-Helena Neves – Museu do Aljube;
-“Em nome das Forças Armadas viemos dizer-lhe que está liberta!” - Revolução dos Cravos (rfi.fr)
Helena Neves – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)