Gisèle Pelicot
A vergonha mudou de lado: o caso de Gisèle Pelicot
"A vergonha é deles", disse, referindo-se aos homens acusados de violá-la. "Tenho a sorte de ter as evidências. Tenho a prova, o que é muito raro. Então, tenho que passar por [tudo isto] para defender todas as vítimas"
Gisèle Pelicot, nascida a 7 de dezembro de 1952, é uma mulher francesa nascida na Alemanha (antiga Alemanha Ocidental), vítima do caso de violação em massa de Mazan, também conhecido como Caso Pelicot ou Caso Gisèle. É mãe de três filhos e avó de sete netos.
Estima-se que, de julho de 2011 a outubro de 2020, além de a ter drogado e violado, o Dominique Pelicot, então marido de Gisèle, tenha convidado mais de 80 homens, por um site, para a violarem enquanto estava inconsciente. Gisèle só teve consciência do abuso em 2020, quando Dominique foi preso por levantar a saia de mulheres num supermercado local, e uma busca policial ter revelado as filmagens dos estupros levados a cabo pelo marido e pelos restantes homens.
Gisèle torna-se um exemplo de coragem ao renunciar ao seu direito ao anonimato e a um julgamento de portas fechadas, o que atraiu a mídia internacional e fez com que milhares de mulheres se sentissem compreendidas e ouvidas, se não finalmente vingadas, por alguém.
Enquanto viviam em Paris, Dominique drogava a mulher com benzodiazepiníco, aproveitando-se do facto de Gisèle ficar inconsciente para a violar. Além deste fármaco, também acrescentava comprimidos para dormir à comida e bebida que dava à mulher de modo a deixá-la inconsciente. Mais tarde, quando se mudaram para Mazan, começam os convites online a homens para que fossem a sua casa fazer o mesmo.
Entre os homens que violaram Gisèle, estavam pessoas com um perfil que aparentava ser correto e banal, parecendo que serem incapazes de algo repreensível. Ao longo do julgamento, ainda tentaram alegar serem as vítimas.
“Eu tenho a impressão de ter sido manipulado (...) Era Dominique que dava todas as ordens”, disse Cyril B., motorista de camiões, de 46 anos.“Eu sou apenas uma vítima colateral (...) eu servi apenas para realizar as fantasias de Dominique Pelicot”, disse Ludovik B., de 39 anos, funcionário de uma loja."
Após 4 anos, e 67 dias de julgamento, a 19 de dezembro, Dominique Pelicot e os restantes homens foram condenados:
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Quem eram os 50 arguidos no caso Gisèle Pelicot, condenados a penas entre 3 e 15 anos
Dominique Pelicot, 72 anos, ex-marido de Gisèle Pelicot
Culpado de violação agravada da sua ex-mulher, Gisèle, da tentativa de violação agravada da mulher de um dos co-arguidos, Jean-Pierre Marechal, Cillia, e da recolha de imagens íntimas da sua filha, Caroline, e das suas noras, Aurore e Celine. Condenado a 20 anos de prisão.
Abdelali Dallal, 47, ex-carpinteiro
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Culpado de violação agravada. Condenado a oito anos, mas sai em liberdade devido a problemas médicos e será colocado numa prisão especial, de acordo com o juiz.
Adrien Longeron, 34, antigo empreiteiro
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Culpado de violação agravada e de posse de imagens de abuso de crianças. Condenado a seis anos de prisão.
Cédric Grassot, 50, técnico de software
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Culpado de violação agravada. Condenado a 12 anos.
Jean-Pierre Marechal, 63, ex-camionista
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Culpado de tentativa de violação e violação agravada da sua mulher, bem como de a ter drogado. Condenado a 12 anos de prisão.
Jérôme Vilela, 46, ex-merceeiro
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Culpado de violação agravada; 13 anos de prisão.
Joan Kawai, 26, soldado do Exército francês
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Culpado de violação agravada; dez anos de prisão.
Joseph Cocco, 69, gestor de vendas reformado
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Culpado de agressão sexual agravada; condenado a três anos de prisão.
Karim Sebaoui, 40, perito em informática
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Culpado de violação agravada e de posse de imagens de abuso de crianças.Condenado a dez anos de prisão.
Lionel Rodriguez, 44, trabalhador de supermercado
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Culpado de violação agravada; oito anos de prisão.
Thierry Postat, 61, especialista em refrigeração
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Culpado de violação colectiva agravada e de posse de pornografia infantil.Condenado a 12 anos e proibido de trabalhar com crianças para o resto da vida.
Vincent Coullet, 42, carpinteiro
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Culpado de violação agravada; dez anos de prisão.
Ahmed Tbarik, 54, canalizador e antigo campeão de boxe
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Culpado de violação agravada; oito anos de prisão.
Boris Moulin, 37, trabalhou numa empresa de transportes em Avignon
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Culpado de violação agravada; oito anos de prisão.
Andy Rodriguez, 37, trabalhador agrícola desempregado
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Culpado de tentativa de violação, com factores agravantes; seis anos de prisão.
Hassan Ouamou, 30, profissão desconhecida
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Culpado de violação agravada e condenado a 12 anos de prisão, o arguido encontra-se em Marrocos; está emitido um mandado internacional de captura.
Hughes Malago, 39, ladrilhador
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Culpado de tentativa de violação, com duas agravantes; condenado a cinco anos de prisão.
Husamettin Dogan, 43, cuidador do filho deficiente
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Culpado de violação agravada; nove anos de prisão.
Jacques Cubeau, 72, ex-bombeiro
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Culpado de violação agravada; cinco anos de prisão.
Jean Tirano, 52, ex-telhador
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Culpado de violação agravada; oito anos de prisão.
Jean-Luc LA, 46, fabricante de espelhos
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Culpado de violação agravada; dez anos de prisão.
Jean-Marc LeLoup, 74, ex-camionista
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Culpado de violação agravada; seis anos de prisão.
Redouane Azougagh, 40, desempregado
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Culpado de violação agravada. Condenado a nove anos de prisão.
Redouane El Farihi, 55, enfermeiro e ex-anestesista
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Culpado de violação agravada; oito anos de prisão.
Cendric Venzin, 44, antigo soldado da Legião Estrangeira Francesa
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Culpado de violação agravada. Condenado a nove anos.
Cyprien Culieras, 43, ex-camionista
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Culpado de violação agravada. Condenado a seis anos.
Charly Arbo, 30, trabalhador da vinha
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Culpado de violação agravada. Condenado a 13 anos.
Christian Lescole, 56, bombeiro
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Culpado de violação agravada e absolvido do crime de posse de imagens de abuso de menores. Condenado a nove anos de prisão.
Cyril Beaubis, 47, camionista
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Culpado de violação agravada. Condenado a nove anos.
Ludovick Blemeur, 39, trabalhador de armazém
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Culpado de violação agravada; sete anos de prisão.
Mahdi Daoudi, 36, trabalhador de transportes
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Culpado de violação colectiva. Condenado a oito anos.
Mathieu Dartus, 53, ex-padeiro
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Culpado de violação agravada. Condenado a sete anos.
Mohamed Rafaa, 70, antigo empregado de discoteca
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Culpado de violação agravada; oito anos de prisão.
Nicolas François, 42, jornalista freelance
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Culpado de violação agravada e de posse de imagens de abuso de crianças.Condenado a oito anos, tendo ficado proibido de trabalhar com crianças.
Nizar Hamida, 41, cabeleireiro
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Culpado de violação agravada; dez anos de prisão.
Simoné Mekenese, 42, construtor
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Culpado de violação agravada; nove anos de prisão.
Thierry Parisis, 54, ex-construtor
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Culpado de violação agravada; oito anos de prisão.
Cyrille Delville, 54, talhante
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Culpado de violação agravada. Condenado a oito anos de prisão
Didier Sambuchi, 68, ex-condutor de camiões
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Culpado de violação agravada; cinco anos de prisão.
Dominique Davies, 45, condutor de camiões e antigo soldado
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Culpado de violação agravada. Condenado a 13 anos.
Fabien Sotton, 39, profissão desconhecida
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Culpado de violação agravada; 11 anos de prisão.
Florian Rocca, 32, motorista de entregas
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Culpado de violação agravada. Condenado a sete anos.
Grégory Serviol, 31, pintor e decorador
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Culpado de violação agravada. Condenado a oito anos de prisão.
Omar Douiri, 36, mecânico
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Culpado de violação agravada. Condenado a oito anos de prisão.
Paul-Koikoi Grovogui, 31, pondera formar-se como pastor
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Culpado de violação agravada. Condenado a oito anos de prisão.
Patrice Nicolle, 55, electricista
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Culpado de violação agravada; oito anos de prisão.
Patrick Aron, 60, antigo operário fabril e proprietário de um clube de vídeo
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Culpado de violação agravada. Condenado a seis anos, mas está em liberdade porque tem problemas de saúde e será colocado numa prisão especial, segundo o juiz.
Philippe Leleu, 62, jardineiro
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Culpado de violação agravada; cinco anos, dois dos quais suspensos.
Quentin Hennebert, 34, guarda-prisional
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Culpado de violação agravada; sete anos de prisão.
Romain Vandevelde, 63, ex-condutor de empilhadores
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Culpado de violação agravada; condenado a 15 anos de prisão.
Findo este julgamento, esperamos que o caso de Gisèle seja o ponto final no silenciamento feminino e que a vergonha tenha mesmo mudado de lado.
“Penso nas vítimas não reconhecidas”
FONTE: Euronews