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Clarice Lispector

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  • Clarice Lispector (n. Chaya Pinkhasivna Lispector) nasceu na Ucrânia a 10 de dezembro de 1920 e faleceu no Brasil a 9 de dezembro de 1977. O seu contributo para a literatura brasileira foi crucial e influenciou o pensamento das gerações posteriores. Empoderandose da normalidade da vida, dá às suas personagens comuns um toque especial através das suas constantes epifanias com um furor existencialista e introspetivo muito característico de Clarice.

  • Foi para o Brasil em 1922, com a família de ascendência judaica-russa, devido à perseguição e extermínio em massa de judeus e também à Guerra Civil russa, que dizimou o património familiar. É lá que cresce e faz toda a sua vida, passando brevemente por Maceió até se mudar para a cidade de Recife e, posteriormente – e após a morte da mãe – para o Rio de Janeiro. Da Ucrânia, Clarice pouco se recorda, e é com furor que afirma o Brasil como sendo a sua pátria. Estudou Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, porém, é o meio literário que a alicia: começando por ser tradutora, pouco demora até se enredar pelos caminhos da escrita e jornalismo, produzindo diversos contos e ensaios ao longo da sua vida.

  • Os esforços de Clarice para se fazer valer no mundo da literatura são louváveis. Numa altura em que a indústria jornalística era marcadamente patriarcal – e, acrescendo a isto, a ditadura no Brasil apenas veio dificultar a publicação de textos graças à censura –, Clarice vagueava entre as várias redações de revistas para vender os seus contos, encontrando na revista ‘Vamos Ler!’, finalmente, alguém que aceitasse publicar os seus contos.

  • Será em 1942, dois anos depois de ver o seu primeiro conto Eu e Jimmy publicado, que Clarice Lispector publica o seu primeiro romance: ‘’Perto do Coração Selvagem’’, que veio revolucionar a literatura brasileira do século XX. Opondo-se à tendência regionalista das obras da altura, Clarice cria uma narrativa baseada em problemáticas existencialistas, marcada pelo estilo de escrita elíptico e metafórico, fragmentado e solto das constrições tipicamente vistas na prosa. A reação pela crítica foi extremamente positiva, e a obra de estreia de Clarice foi premiada em 1944 com o Prémio Graça Aranha. Várias outras obras se seguiram, merecendo especial destaque O Lustre, Água Viva, A Hora da Estrela e A Paixão segundo G.H. Ademais, também escreveu textos infantis e traduziu obras do inglês e do francês.

  • A herança literária e cultural que Clarice nos deixa é muitíssimo valiosa, e relata uma história de resiliência e perseverança face às adversidades que a vida ia debitando no caminho de Clarice. Em todos os aspetos da sua vida, Clarice foi uma mulher irreverente: como ela mesma dizia de si, «tímida e ousada», Clarice abriu caminho para muitas mulheres na indústria do jornalismo e da literatura. Uma mulher que escrevia sem inibições, com uma irreverência e originalidade que chocava leitores, numa altura em que a opressão era a realidade, é sem duvida um exemplo de coragem e resistência.

  • Ademais, as personagens femininas inventadas por Clarice são sempre alvo de experiências e pensamentos paradoxais: entre um estado de ‘’crise’’ (ditado por uma situação familiar, como n’O Lustre) e um ‘’outro mundo’’ de que se sentem distanciadas, tornando a mulher – ainda que personagem principal – num ser que paira sem vínculos alguns pela rotina e sucessão histórica da obra. No culminar das suas obras, há porém uma total reviravolta, onde este espaço desvinculado dá lugar a outro local em que a mulher se redescobre; como no seu conto Amor, é no jardim botânico que a mulher, unida com a natureza ao seu redor, se redescobre enquanto ser individual, enquanto ‘’eu’’, e é empoderada pela experiência de simplesmente ser e existir que até lá – visto viver naquele espaço paradoxal, entre o tudo e o nada, entre a sua vida particular e a vida de todos os que a rodeiam mas sem nunca pertencer a uma ou a ambas – não havia experienciado.

Não há nenhum legado mais sublime a deixar neste mundo do que ser a percursora da real mudança social e individual; Clarice Lispector, com o seu talento cru, tornou-se um símbolo de poder feminino não só pelas suas próprias conquistas pessoais, que mostram uma pessoa resiliente e incapaz de baixar os braços, sempre em busca de viver através da 4 paixão que tinha pela escrita, como também através do próprio significado do que ela escreveu, que até hoje, e por muito mais tempo, irá ecoar pelos corredores da história como uma inspiração para muitas mulheres, ensinando que também com subtileza se ensinam e transformam pensamentos.

  • Tais metáforas explicam as vivências de Clarice no mundo enquanto mulher, e é claro que a identificação de semelhanças das leitoras com as personagens femininas das suas histórias aproxima a autora das leitoras e cria nas próprias leitoras um sentimento de empoderamento – a descoberta da individualidade é extremamente relevante, e um privilégio que parece ser continuamente negado à mulher ao obrigá-la a existir em espaços que restringem o seu caráter e personalidade num molde socialmente aceitável. É este o legado de Clarice Lispector: através da introspeção e da libertação do eu individual, proporciona as ferramentas essenciais para a emancipação da mulher dos vínculos sociais que a prendem a moldes pré-concebidos do que constitui e compõe a feminidade.

  • Não há nenhum legado mais sublime a deixar neste mundo do que ser a percursora da real mudança social e individual; Clarice Lispector, com o seu talento cru, tornou-se um símbolo de poder feminino não só pelas suas próprias conquistas pessoais, que mostram uma pessoa resiliente e incapaz de baixar os braços, sempre em busca de viver através da 4 paixão que tinha pela escrita, como também através do próprio significado do que ela escreveu, que até hoje, e por muito mais tempo, irá ecoar pelos corredores da história como uma inspiração para muitas mulheres, ensinando que também com subtileza se ensinam e transformam pensamentos.

Pode consultar em:

  • IHUonline: "Clarice Lispector: a delicadeza e contundência de uma literatura de liberação"

  • Revistacult.uol: "Clarice Lispector: A teia sutil de uma poética feminista"

  • Wikipédia: "Clarice Lispector"

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