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«Graças a Deus que sou mulher!», gritou, e estava quase caindo na extrema loucura – nada mais aflitivo em homem ou mulher – de se envaidecer do seu sexo, quando se deteve na singular palavra que, mau grado todos os nossos esforços, se insinuou no fim da última frase: Amor. «Amor», pronunciou Orlando. Imediatamente – tal é a sua impetuosidade – o amor tomou forma humana – tal é o seu orgulho. Pois, enquanto outros pensamentos se contentam em permanecer abstratos, este não se satisfaz enquanto não se reveste de carne e sangue, mantilha e saias, calções e jaqueta. E como todos os amores de Orlando tinham sido mulheres, agora, devido à culpável morosidade da constituição humana em adaptar-se ao convencional, embora sendo mulher, era ainda uma mulher que ela amava; e se a consciência de ser do mesmo sexo produzia algum efeito, era o de avivar e aprofundar os sentimentos que possuíra como homem. Pois agora se aclaravam mil sugestões e mistérios que antes lhe tinham parecido obscuros. A obscuridade que separa os sexos e permite perdurarem inúmeras impurezas na sua sombra fora removida; e se existe alguma relação no que o poeta diz acerca da Verdade e da Beleza, esta afeição ganhava em beleza o que perdia em falsidade. Finalmente, gritou, conhecia Sasha tal como era, e no ardor da sua descoberta, e no encalço de todos esses tesouros que agora lhe eram revelados, estava tão arrebatada e encantada que foi como a explosão de um canhão nos seus ouvidos […].

Virginia Woolf

in Orlando (1928)

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